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É sábado de manhã. Sábado é qualquer coisa preenchida, é alegria, é família. Sábado é um dia lindo. É esperança. Portas abertas, pessoas por toda parte, cheiro de coentro, galinha, feijão, melancia, bichos presos, gatos soltos – gatos não são bichos. O quadro-tapete gigante na parede me fascina, paro, analiso a cena, tento entender, pergunto o que é. É o destaque na casa. Parece que foi um filho que a presenteou. Entro no supermercado, mãozinhas gordinhas, ainda com buraquinhos, pego o sabão, percebo; as mãozinhas gordinhas não são minhas. Foram, um dia. Eram no tempo em que eu esperava, ansiosa, os sábados para ir à casa da minha vó Maroca, comer galinhas de açúcar. Continuo esperando por sábados. Agora minhas mãos são as da minha mãe, olhava curiosa e preocupada para aquelas veias saltadas, apertava, discretamente, mas elas, as veias, assim como o tempo, escorregavam dos meus dedos, o osso pontiagudo na lateral, onde a mão se encaixa ao braço, também me chamava atenção, olhava as minhas mãos, não via aquela saliência, agora tenho. É otempo que constrói os ossos. Semana passada Camila me explicou, “mamãe, você sabia que os ossos vão se juntando pra gente crescer?”. É o tempo em estado físico, ossos. Passeio pelas sessões com meus três filhos, vejo galinhas de açúcar, compro mesmo não sendo sábado. O quadro era a santa ceia, fiquei sabendo. Sábado é um jeito de estar no mundo.

Katyuscia Kelly | @katycatao