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Aos desconhecidos daquele ônibus, avô e neto, um senhor no auto dos setenta anos e a pequenina sombra com não mais que dez anos de idade, agradeço por permanecerem dialogando  durante o trajeto que percorremos juntos, cerca de sessenta e oito minutos – pois, lembro de termos adentrado ao transporte público no mesmo ponto e, de ter olhado as horas no relógio de pulso.

Os reflexos dos ensinamentos do homem a sua promessa da propagação em terra, enquanto valores familiares e biológicos do sexo masculino, tão gritantes, que vieram átona segundos após o momento que tomamos o acento à frente destes – um amigo fazia companhia a mim.

Nunca respirei tão aliviada por não ter de ouvir tudo sem alguém para compartilhar de imediato a aflição.

O desrespeito das palavras zumbia os nossos pares de orelhas, vindas em tons de depreciação, da pior espécie, repetiam: Viado, viado, – alguma coisa-, viado; e o silêncio – que durou apenas alguns segundos – após as tentativas falhas de

nos irritarem, seguido com o tom de voz que ergui para ignorá-los e então, a desconversação da dupla adentrando em outros assuntos.

Às pessoas chegam a posicionar-se em um caráter tão repugnante, que, comportar-se diante das diferenças é quase impossível.

A companhia, à quem pude dedicar toda atenção para abstrair tamanha maldade, em duas escalas gritantes a Oldschool e a Newschool da má humanidade, desceu no seu ponto final e tive de continuar por mais alguns vinte ou quarenta minutos – nesta altura, o desejo de sumir daquele espaço era tanto e a ansiedade tomou conta dos pensamentos a tal maneira, onde fui perdendo totalmente a noção de tempo e espaço.

E, ainda seguindo o trajeto, e dividindo aquele ambiente com estas duas criaturas, acompanhei partes do diálogo onde eram ensinadas mentiras por parte do ancião, mentiras estas direcionadas à mãe da criança e o desejo do mesmo, de aprender a falar em Libras.

Não encontro retrato melhor de representação ou, tão bem aperfeiçoado às

margens da nossa sociedade atual. Contradições personificadas que exalam hipocrisia, incoerência e total despreparo ao convívio em sociedade.

Maria Leandra / @movidaporodio