A libélula me encontrou

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A libélula para muitas culturas representa renovação e não faz muito tempo que a minha libélula me encontrou. A vida de escritor, principalmente o iniciante, sofre tantos altos e baixos quanto uma montanha russa e gera tanta ansiedade que poderia te deixar louco. Se eu soubesse antes mesmo de começar que seria assim talvez nem tivesse dado o primeiro passo, mas acontecesse que foi o primeiro passo que me encontrou, anos atrás, quando eu nem imaginava o que era ser uma escritora.

A verdade é que hoje em dia é muito difícil um autor sustentar a pose de misterioso, experiente, culto e intrigantemente charmoso que se tinha anos atrás. Mergulhando de cabeça nessa nova fase da minha vida, descobri tantas coisas inusitadas e interessantes sobre o fantástico mundo da escrita quanto coisas desgastantes e desanimadoras. Mas sendo franca, que profissão não é assim? Tudo na vida tem seu lado positivo e negativo, basta descobrir uma maneira melhor de “digerir” as coisas ruins.

Eu, como muitos autores pelo mundo, tenho minhas inseguranças em relação a escrita. Um texto meu nunca será bom o suficiente para dividir com os outros, nunca estará 100% correto e nunca irá agradar a todos os gostos. Infelizmente estamos fadados a esta realidade. Encontrar uma casa editorial que esteja comigo e que queira apostar em mim, em nós, está cada dia mais difícil e mais um vez somos arrebatados pelo desânimo.

Por mais que eu pense que tenho potencial, em momentos como este duvido constantemente se um dia terei a inércia necessária para sair do lugar, comparando com o fato de que muitos já conseguiram.

Porém, apesar de tudo, ser escritor não é uma profissão comum. Somo movidos por uma força motriz peculiar que nos persegue mesmo quando já desistimos e essa força está em todo lugar, está em um livro, em uma propaganda publicitária, em uma música, em um elogio, em um filme, em um momento particular de meditação… e ela vem com tudo, gela tua barriga, arrepia teus pelos e te tira o sono se for necessário, até o momento que você consegue tirar

tudo que está em seu peito e traduzir em palavras. Eu chamo essa força motriz de inspiração, de Deus, de Lenda Pessoal 1 , de destino…São muitos os nomes.

Isso me emociona, me move, me norteia e me faz continuar tentando, produzindo, escrevendo, RENOVANDO, porque eu já admiti e agora não tem mais volta. É isso que sou e é para isto que estou aqui. É preciso coragem pois escrever, muitas vezes, é expor o que somos, o que pensamos ou como agimos em nosso mais íntimo pensamento e que muitas vezes não damos lugar em nossas atitudes por mera convenção. Mas na escrita somos livres! Verdadeiramente livres!

Será preciso abnegação pois escrever será sempre um prazer, porém comprometimento é necessário, assim como periodicidade e têm que estar presente todos os dias dessa jornada. Não existe sucesso sem prática. Será preciso apoio, pois a entrega nos tira do eixo e você irá precisar de pessoas que te lembrem de quem você é.

Será preciso também alguns pratos e copos de vidro para que você possa quebrar em momentos de frustração (que não serão poucos, isso eu te garanto) e deixar ela te consumir é pior que veneno.

Um bom escritor tem olhos atentos para a beleza do implícito, pois se fosse para simplesmente descrever que o preto é preto e o branco é branco não haveria mérito na subjetividade.

Espero, com tudo aquilo que me compõe, que um dia eu possa arrancar lágrimas, suspiros, gritos de excitação e de raiva como um dia me foram arrancados com palavras de alguns livros e que assim eu finalmente sinta que sou apenas instrumento de algo muito maior e que a renovação me encontrou no bater das asas de uma libélula.

Marta Vasconcelos