Dez livros de autoras contemporâneas perfeitas, sem defeitos

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Uma das palestras mais assistidas do TED Talk em formato de livro. O que sabemos sobre outras pessoas? Como criamos a imagem que temos de cada povo? Nosso conhecimento é construído pelas histórias que escutamos, e quanto maior for o número de narrativas diversas, mais completa será nossa compreensão sobre determinado assunto. É propondo essa ideia, de diversificarmos as fontes do conhecimento e sermos cautelosos ao ouvir somente uma versão da história, que Chimamanda Adichie constrói a palestra que foi adaptada para livro.

Neste pequeno manual, a filósofa e ativista Djamila Ribeiro trata de temas como atualidade do racismo, negritude, branquitude, violência racial, cultura, desejos e afetos. Em onze capítulos curtos e contundentes, a autora apresenta caminhos de reflexão para aqueles que queiram aprofundar sua percepção sobre discriminações racistas estruturais e assumir a responsabilidade pela transformação do estado das coisas.

Com uma linguagem direta e sem rodeios, Assim na terra como embaixo da terra prende a atenção do leitor logo nas primeiras páginas. Este eletrizante e premiado romance de Ana Paula Maia narra o cotidiano de uma colônia penal isolada em vias de desativação. Construída em um terreno com histórico tenebroso de tortura de escravos e assassinato, a instituição foi criada para ser um modelo de detenção do qual preso algum jamais fugiria.

“A cor humana”, livro de estreia de Isabor Quintiere, conta com dez contos permeados pelo fantástico e pelo insólito. Fortemente inspirada pela literatura latino-americana de realismo mágico, os temas principais da obra são a pequenez, a entropia, o duplo e o fim. Um de seus contos, “Madres”, foi premiado com o Prêmio Odisseia de Literatura Fantástica 2019.

Guida Gusmão desaparece da casa dos pais sem deixar notícias, enquanto sua irmã Eurídice se torna uma dona de casa exemplar. Mas nenhuma das duas parece feliz em suas escolhas. A trajetória delas em muito se assemelha com a de inúmeras mulheres nascidas no Rio no começo do século XX e criadas apenas para serem boas esposas. São as nossas mães, avós e bisavós, invisíveis em maior ou menor grau, que não puderam protagonizar a própria vida, mas que agora são as protagonistas do primeiro romance de Martha Batalha.

Seria pouco dizer que os contos de Amora, autoria de Natália Polesso, versam sobre relações entre mulheres. Também estão aqui o maravilhamento, o estupor e o medo das descobertas. O encontro consigo mesmo, sobretudo quando ele ocorre fora dos padrões, pode trazer desafios ou tornar impossível seguir sem transformação.

Em meio à guerra civil nigeriana e à sucessão de golpes militares que abalam o país, Enitan Taiwo e Sheri Bakare tornam-se amigas. Neste livro de Sefi Atta, apesar de ainda não compreenderem os problemas terríveis de seu país, as duas meninas de 11 anos crescem enfrentando o terror da repressão política e a reprovação da mãe de Enitan, que considera Sheri uma péssima companhia para a filha.

Tituba, mulher negra, nascida em Barbados, no século XVII, renasce, três séculos depois. Torna-se outra vez real, pelas mãos da premiada escritora Maryse Condé, vencedora do New Academy Prize 2018. No início do livro, Condé anota: “Tituba e eu vivemos uma estreita intimidade durante um ano. Foi no correr de nossas intermináveis conversas que ela me disse essas coisas que ainda não havia confiado a ninguém.”

Maria cruza o sertão – e a noite – num ônibus que a levará a algum ponto isolado do Nordeste, relembrando sua primeira incursão naquela região agreste, quarenta anos antes, em condições mais precárias e perigosas, seguindo um anúncio num diário oficial que lista municípios onde se precisava de alfabetizadores para o Mobral. Ela foi “logo aceita, sem mais perguntas, porque, de Brasília, pressionavam os chefetes políticos da região, e ninguém mais estava disposto a se exilar em Olho d’Água e ensinar a ler e escrever aos jovens e adultos”.

Valentes é uma obra de referência sobre o tema do refúgio no Brasil. É para auxiliar na compreensão desse tema tão complexo e combater a desinformação que as jornalistas Aryane Cararo e Duda Porto de Souza reúnem histórias de vida emocionantes, de pessoas de mais de quinze nacionalidades, que vieram para o nosso país pelos mais variados motivos – desde dificuldades financeiras até perseguição baseada em raça, religião, nacionalidade, orientação sexual, identidade de gênero ou opinião política –, todas em busca de um lugar onde pudessem de fato viver.

Como dito, perfeitos. Isso na minha humilde opinião.
Mylena Queiroz