hoje eu me afoguei
nas minhas lembranças
do som
que mais se assemelha ao ruído
da cabeça que pesa
perante o invisível aos olhos
ontem também mergulhei
em mim mesma
como se eu fosse
um poço sem fundo
eu caí
dentro de mim
e continuei caindo
pensei milhares de vezes
que deveria acordar
mas é tão boa a sensação de voar
ali em sonho, eu voava
talvez os pássaros não saibam a sorte que tem
enquanto eu estava em queda livre
a mão amiga tocou-me o peito
como se dissesse “estou aqui”
não que eu não soubesse disso
é que eu não sentia
ainda em queda
pensei na beleza poética das coisas
e no que aquilo seria na poesia
pensei em escrever
“essa não é hora de usar tuas letras escritas”
de fato
eu queria mesmo continuar caindo em mim
e apreciar minha queda
no dia seguinte eu ouvi esse som
que tanto me fez pulsar
senti um coração enferrujado
eis que palpita o congelado
eu não posso querer muita coisa
esse som já não é mais meu
eu não tenho esse direito
Débora Melo