Cinzas

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Eu ainda acho que vou te encontrar quando eu for pra casa. Que tu vai me ver mais uma vez.
Que a gente vai falar sobre o tempo mais uma vez. Que vamos sentar na calçada mais uma vez.
Que tu vai me abraçar desajeitadamente mais uma vez.
A distância de tudo me afeta, a ficha caiu mas não caiu. Como pensamentos intrusivos ainda me vem a incredulidade.
Essa sensação me acerta como um jato forte de água. Bate. Para.
Sigo minha vida. Sigo ignorando os fatos e sentindo demais quando lembro.
Queria tanto ter conversado contigo, ter dito, pessoalmente, que vou ficar bem, ter te confortado de alguma forma, apesar de eu ser péssimo em confortar alguém. Queria te sentir

de novo, sentir a presença, o só saber que você está ali. Isso é egoísmo? Acho que não teria

sido justo com você, não é mesmo? Vou me contentar com meus sentimentos e ver o que eles fazem de mim, não tenho muito controle sobre eles, apesar de acreditar veementemente o contrário.

Continuo escrevendo palavras ao vento, ao léu. Realmente agora eu sinto que “as palavras nunca ditas a um morto queimam na boca”, só não sei se para sempre. Na verdade acho que a incerteza e a impotência me queimam mais.

De uma forma ou de outra eu compartilho o queimor com o papel. Espero que ele seja forte o suficiente para não virar cinzas. Eu vou, eventualmente. Nos vemos lá, será?

Matheus Nocrato / @matheusnomundotodo