Geraldo Bernardo é uma pessoa fascinante, que tem muitas histórias para contar. Ele é escritor, professor, cordelista, poeta e também já atuou. Geraldo Bernardo é uma pessoa muito divertida. E com esse jeito divertido, demonstra amor por tudo que faz. Conheça mais sobre ele na entrevista abaixo:
Repórter Literário: Como a careira começou?
Geraldo Bernardo: Minha careira começa quando eu nasço. Eu nasci e algo na minha existência disse que eu era escritor.
R.L.: Você já sabia o que queria ser? Não teve dúvidas?
Geraldo Bernardo: Não. Eu nasci agricultor. Hoje sou professor de História. Sou professor do Ensino Médio do Estado do Rio Grande do Norte. Já trabalhei na Paraíba, no Ceará. Mas assim, é uma forma de sobreviver. Já trabalhei no banco, já fui um monte de coisa. Mas, na minha cabeça e nos meus sonhos, sempre ficava um monte de história, que eu tinha a necessidade de colocá-las para frente.
R.L.: Como foi a produção do primeiro livro?
Geraldo Bernardo: Ah o meu primeiro livro de todos. Chamou-se “Noite Lúgubre”. eu fiz vários livros porque sou uma pessoa de movimento, de juntar com outras pessoas e brigar pelo seu espaço. eu sou do “movimento de cultura”. É um livro de contos que eu lancei em 2001-2002. Eu lancei esse livro, fiz ele todinho. diagramei, ficou todo errado. Mas, pelo menos, ficou muito bem. Ficou todo errado porque não entrou em livraria, porque não tinha revisão ortográfica. Eu fiz todo errado. lancei um livro e saí vendendo para as pessoas.
R.L.: Em 2002, o povo era mais paciente para ler?
Geraldo Bernardo: Eu não sei se era mais interessado. Mas de qualquer maneira, tinha mais paciência para ler um texto mais longo. A internet, o WhatsApp fez o povo gostar de texto pequeno.de 1 ou 2 linhas. Creio que era mais fácil do leitor ser mais paciente. Não tinha tanta ansiedade como a galera de hoje.
R.L.: No início da careira onde você esperava chegar?
Geraldo Bernardo: Onde eu esperava chegar? Eu sei lá onde eu esperava chegar. A gente sempre pensa em fazer sucesso. Eu fui fazendo teatro… o povo que fazia teatro sempre quis ir para Globo. Eu não. Mas quando eu fui fazer teatro, era porque eu escrevia, eu sempre imaginei que escrever ia me dar o espaço nessa vida. E eu vi que todos os grandes escritores estão à frente do seu tempo. Eles não conseguem, dentro do seu tempo, fazer sucesso. Geralmente são malditos, geralmente estão à margem da sociedade, são marginalizados, Então, eu não pensei em chegar em lugar nenhum. Eu só queria… Eu só queria não, eu ainda quero que minha literatura, o que eu tenho para dizer, que as pessoas leiam. Só isso. Não queria chegar a lugar nenhum não.
R.L.: Você tinha planos para caso a carreira atual não desse certo?
Geraldo Bernardo: Não. Eu sou escritor porque alguém mandou. Não desse plano, mas de outro plano superior, eu pensava em um dia ser jornalista, aí fui ser escritor. Hoje também sou professor de História. Já fiz um montão de coisa.
R.L.: O que te inspirou na produção de suas muitas obras?
Geraldo Bernardo: O que me inspira é o dia, é a natureza, uma criança chorando. Eu não faço um plano, o texto vem para mim, o poema, o conto, vem para mim. Quem passa isso para mim eu não sei. Talvez seja Deus, Alá, Buda, iemanjá… eu não sei. Essas coisas vem para mim. Eu sou apenas instrumento.
R.L.: Você poderia me dizer como se sentiu quando publicou o seu primeiro livro? Você lembra a sensação de quando começou a vender?
Geraldo Bernardo: Ah! isso é bacana! Assim: “você e doido, é?”. O elogio é esse. É você pegar o seu dinheiro, investir, sair vendendo, Não tem nenhum glamour em ser escritor. Eu sei que sou escritor paraibano, isso eu sei. Mas eu sou porque tenho 54 anos de idade, e desde os 14 anos, acho que tem 40 anos, que eu brigo para ser. Mas o primeiro livro que eu lancei é o que eu mais gosto. O mais mal feito. Mas é o que eu mais gosto.
R.L.: Você já teve um bloqueio criativo? Como o superou?
Geraldo Bernardo: Eu tenho todos os dias. Todo dia eu escrevo. Todo dia que Deus me deu, eu escrevo. É uma sina, é um exercício espiritual. Escrevo um poema de bom dia, há 3 anos. A primeira coisa que eu faço, quando me acordo, é escrever um poema de bom dia.
R.L.: Seu processo de criação é mais voltado ao analógico ou digital?
Geraldo Bernardo: Hoje sou altamente digital. O processo nasce na mente; se eu for fazer manual, trabalhado principalmente na construção do poema, utilizo as técnicas da literatura de cordel. Você tem centenas de formas de construir um poema. Com o cordel, eu aprendi a técnica e com a técnica eu tiro o texto da cabeça e digito no Word. Mas eu escrevo no guardanapo, caderninho, tal.
R.L.: Sua carreira faz você viajar muito?
Geraldo Bernardo: Eu já viajei um bocado. Primeiro, eu viajo muito aqui (aponta para a cabeça) sem sair do lugar, para poder construir o texto.
R.L.: Os fãs o pressionam em relação ao lançamento de novos livros?
Geraldo Bernardo: É o seguinte: o mercado editorial é uma coisa. Você pode ter um livro bem bacaninha, e quando chegar na livraria, o povo ignorar. É difícil! Mesma coisa é a arte. Você faz a arte porque você gosta da arte, mas quando o seu livro está pronto, o poema está pronto, ele deixa de ser arte. Ele tem que ser um produto. Aí você tem que pensar como um empresário. Muita gente compra livro para deixar na estante. Mas para ler mesmo… Já tive em lugar que um montam de gente (que eu digo 10 a 15 pessoas), umas pessoas importantes, gente que acha que a literatura é intelectual. Literatura é para fazer para o povo. É entretenimento.
R.L.: Pretende lançar novos livros?
Geraldo Bernardo: Pretendo. Eu tenho três que estão praticamente prontos, estou terminando um e outro está nascendo. Se eu juntasse tudo hoje, eu teria algo em torno de 12 bons livros. Até eu morrer, vou lançar uns bons livros. Se eu morrer amanhã, talvez o meu editor lance uns 2 que tenho prontos, quase terminados. Eu acho que esse final de ano ainda lanço um livro.
R.L.: Onde planeja encerrar a carreira?
Geraldo Bernardo: Eu vou morrer. Carreira aqui não é uma coisa planejada, não tenho uma careira de escritor. Eu tenho uma careira de professor, mas de escritor eu não sei. Acontece assim de uma maneira geral no Brasil, a carreira de escritor começa quando ele morre que fica encalhado na estante. Quando morre vai para o estoque. É uma maldade? é. Mas é a realidade. Eu não tenho ideia onde vai parar a carreira não, vai até morrer.
R.L.: Onde você ver ela no futuro, tipo uns 10 anos?
Geraldo Bernardo: Rapaz, minha carreira de escritor, pensa em uma coisa que não penso. Eu não penso em carreira de escritor porque é o seguinte: você escreve, é visceral. Não planejo. Eu não faço carreira, eu não quero ter fama, eu sou escritor, só isso.
R.L.: Com sua carreira, você já realizou algum sonho da sua infância?
Geraldo Bernardo: Realizar sonho, já realizei um bocado. Eu realizei muitos sonhos sim. Eu andei um bocado pelo Brasil… Isso ai foi um dos sonhos que realizei. Aos 40 anos de idade, eu fiz um longa metragem, que é um filme que me orgulha muito. Eu nem pensava como um sonho, mas veio.
R.L.: Você tem um cuidado muito grande com suas obras?
Geraldo Bernardo: Hoje, tenho bastante cuidado. Já passei muito (tempo) sem ter cuidado, mas foi por isso que não cheguei em alguns lugares. Afinal de contas é um produto de arte. Você tem que ter um rebuscamento. Você tem que ter um cuidado com a Língua Portuguesa. Hoje o meu maior cuidado é que você não vai ferir alguém, por uma questão de gênero, por uma questão social. Politicamente correto hoje é o maior cuidado que você tem.
R.L.: De qual religião você se define?
Geraldo Bernardo: Eu sou agnóstico. Assim, eu não tenho igreja, eu não tenho religião. Tenho o princípio universal de Deus. Que pode ser Alá, Ogum, Buda. Para min todos eles têm o mesmo sentimento.
R.L.: Em média quanto tempo demora para criar um livro?
Geraldo Bernardo: Um livro não tem média, eu tenho um livro…”A doida paixão de um doido” que demorou 10 anos. Agora, eu tenho um exercício de fazer um poema, um poema de 3 estrofes. Tecnicamente, eu posso gastar 40 minutos.
R.L.: Você utiliza as sua obras em suas aulas?
Geraldo Bernardo: Com certeza (…) utilizo menos do que é possível utilizar. O que eu utilizo é o de outros, para não parecer um caba muito amostrado. Mas, a verdade é o seguinte: eu sempre utilizo. Acho que não sou muito ruim como professor de História não, mas eu sou mais artista do que professor.
R.L.: Qual é a série que você ensina?
Geraldo Bernardo: Eu sempre trabalhei com Ensino Médio, trabalhei com cursinho., Agora, eu sou professor do governo do Rio Grande do Norte.
Repórter Literário:
Caio Francisco Bezerra Neves